Alguns "Mezcales" com Christian Chávez

04/09/2012 19:58

 

Nos encontramos com o ex-RBD em uma Mezcaleria, cenário perfeito para se abrir sobre sua família, seu difícil caminho à fama e os amigos que deixou para trás.

Não há nada mais honesto que uma mezcaleria, uma cantina. Um lugar ao qual suba sem intenções, em busca de passar um bom momento e deixando as máscaras na porta. Não é por nada que  Tatiana Vela, repórter de sociais da Quién, descreve o Mezal (bebida típica mexicana) como “a bebida que viu México nascer“, e é a razão primordial pela qual, quando fico sabendo que Christian Chávez está no México –  ocasião que, agora que vive em Los Angeles, não é comum – decido me encontrar para conversar com ele no El Bonito, no coração da Condesa.

Chris chegou ao Bonito usando uma camisa listrada, jeans e tênis cinza, um look completamente diferente (e muito casual) ao que costumávamos ver nos tempos do RBD. É claro, o cabelo agora esta castanho natural; não mais laranja, ou amarelo e ou azul. E se perguntam a Christian se esse look poderia voltar, responde que não sabe.

“Sou uma pessoa que muda constantemente”

No momento, a imagem orgânica que maneja se apega ao jeito de seu novo CD, umunplugged que procura a volta às origens, e junto com sua música, seu estilo também muta. ”Você não pode vestir água se é azeite“, disse, rindo segundos depois ao perceber que sua metáfora não era clara, “Bom, você me entende!“.

Este é o Christian Chávez que entra na mezcaleria, um sorridente, conversador, alguém que ao minuto que te conhece está batendo no seu braço acompanhado de broncas brincalhonas, especialmente após quando pus sobre a mesa o tema da peça de teatro “Spring Awakening“, em cujo elenco esperava vê-lo, e que ao lhe comentar, reagiu surpreso: “Por que não me falou?!“, me repreendeu, brincando, tomando em conta que minhas possibilidades de ter feito algo para que ele pudesse ser parte do elenco são de zero a nulas.

Aparentemente toquei em um ferida. Acontece que “Spring Awakening” é um de seus musicais favoritos, tanto que foi a Nova York vê-la com o elenco original que incluía Lea Michele, muito antes de que Rachel Berry a torna-se famosa na televisão. “Eu poderia fazer o papel do de cabelos pro alto“, “Moritz”, lhe disse. “Sim, ou inclusive do namorado“, me disse referindo-se ao papel que na peça na Broadway realizou Jonathan Groff, também conhecido agora por “Glee“. Chris se confessa um completo amante dos musicais, além de ter participado aqui no México em “Hoy No Me Puedo Levantar” e “Avenida Q“, conta entre suas obras favoritas estão “Rent“, “Billy Elliot” e “Evita“. “Eu disse a Ricky (Martin) que sempre quis interpretar a Che“, me diz enquanto o tema Broadway esta em pauta. Outra de suas obras favoritas é “Los Miserables“, e curiosamente é bastante possível que proximamente tenha a oportunidade de dar vida a Maurice, quando Morris Gilbert trazê-la de volta ao México.

Já sei todas as canções, só teriam que me dizer como seria em espanhol e pronto!“, afirmou retomando o tema de “Spring Awakening“, logo antes de cantar There’s a moment you know…, trecho de “Totally F*ucked“, uma das canções mais emblemáticas do musical. Ironicamente, segundos depois, enquanto começa a falar de sua adolescência e seu caminho ao sucesso, um trecho desta seja o primeiro que vem à minha mente:Disappear – yeah, well, you wanna try. Wanna bundle up into some big ass lie. Long enough for them to all just quit. Long enough for you to get out of it.

Foi um tempo difícil para mim“, começa sério, antes de brincar, “Passe-me os kleenex!” -marca de lenço de papel-. A história de como começou seu caminho na música e na atuação começa curiosamente com uma carreira de arquitetura e uma bolsa para estudar em Cambrigde.

Tinha muita facilidade para desenho e o desenho técnico“, explica. Mas sua paixão sempre encontrou-se no âmbito artístico. Essa foi basicamente a razão pela qual Chrisdecidiu tentar a sorte no casting do CEA, passei a saber que seus pais não concordaram com sua decisão. Em segredo e enfrentando a milhares de aspirantes em busca de um lugar na escola da Televisa, Christian passou pelos filtros e recusou a oportunidade de estudar na Grã Bretanha. Imediatamente perdeu o apoio de seu pai, que cortou o fornecimento de dinheiro, cartões de crédito e carro, seus amigos da escola, os quais ao escolher cada um sua universidade, viram com total desgosto sua decisão.

“Não direi nomes, mas um inclusive me disse: ‘Meus pais me disseram para que não ande contigo’”.

Mas, além da rejeição, o verdadeiro balde de água fria foi durante um casting já dentro do CEA. Após provar ser um aluno excelente e escutar seus professores dizerem que com certeza levaria o papel principal na peça que montariam na escola (por meio de exame), o anúncio dos papéis provou ser uma de suas maiores decepções.

“Me deram o papel de Ricardo, que era um dos papéis pequenos que saia rápido”.

Depois lhe explicaram a razão por que perdeu o papel principal, pois sua imagem não se ajustava ao prototipo de galã da Televisa. “Não é o bonitão loiro de nariz perfeito e olhos azuis. O muito que conseguirá neste negócio é que te deem o papel de capataz“.

Consegue imaginar?“, indagou alarmado. “Eu havia deixado tudo!“. Nessa mesma tarde voltou para casa chorando (e caminhando, pois seus pais não lhe devolveram seu carro) sentindo-se perdido. “Não sei se você coloca-se em meu lugar…“, comenta antes de fazer a mímica de vendo no rosto e lágrimas escorrendo. “Parei na calçada e disse a Deus: ‘Por favor, me da um sinal‘”. Eu não sei se o humor mudou completamente em nossa conversa, mas quando contou esta parte de sua história, eu tive uma ligeira sensação de que sua voz começou a tremer um pouco.

“Quando teus pais e teus amigos haviam deixado de falar contigo, quem foi seu consolo?” lhe perguntei. “Minha irmã. E eu mesmo“. Voltando a ser o Chris de sempre, brinca lembrando-me que desde cedo está acostumado a ser forte: “Eu sou do norte e sei como aguentar“, descreveu, acrescentando que se sustenta de uma força externa, alheia por assim dizer, é também parte do segredo que por não se deixar cair.

“É preciso ter fé sempre. Fé em algo, o que seja, podes ter fé na Virgem de Guadalupe, em você mesmo, em Marilyn Menson se quiser.”

Longe de se ter por vencido e sofrer um pequeno break downChris voltou a ficar de pé.

“Como eu percebi, tinha duas opções: Me deixar cair ou seguir adiante e ver como fazia…”

Foi pouco depois deste acontecimento que Pedro Damián, em outro castingcompletamente não relacionado, o escolheu como Fercho para a novela “Clase 406“. E aí sua história começou a mudar. “E teus pais em algum momento disseram ‘Nós erramos’?”, perguntei.

“Sim, às vezes ainda choram e me dizem “Perdão por não lhe ter apoiado’, mas eu digo a eles para não se preocuparem, pois me fizeram forte.”.

Sempre serei RBD“, comenta orgulhoso quando a conversa da um giro de 180 graus ao teus tempos ao lado de Poncho, Anahí, Maite, Christopher e Dulce María. Uma casamento, um divórcio e dois anos vivendo no estrangeiro depois, Chris ainda sente que sua primeira novela para cá, passou num piscar de olhos, sendo que são 11 os anos que se passaram desde que começou sua carreira de forma profissional. E nem ele explicar completamente como é que “Rebelde” teve o sucesso que conseguiu e a forma na qual nenhuma outra novela juvenil (o grupo musical nascido delas) conquistou se impor na cultura da forma como que seu segundo trabalho para a televisão em meados do ano 2000. “Há frases dessa novela que ainda são usadas hoje em dia”. lhe digo e imediatamente começamos a lembrar: “É assim… que difícil es ser yo… tipo como… pollitas.”.

Christian ganha o sucesso conquista com RBD em uma acertada estreia num tempo em que OV7 havia deixado de existir e outro grupo pop juvenil, Kabah, havia cedido no mundo musical; além da forma em que “Rebelde” oferecia uma variedade de personagens e histórias com as quais muitas pessoas poderia se relacionar, diferente de outras produções dirigidas a um setor mais específico da população. Eu ainda não estou completamente convencido. “Não que te queira comparar com as Kardashian, mas acho que vocês viveram um fenômeno televisivo parecido na medida em que tornaram-se um monstro que provavelmente ninguém viu chegando.”. A comparação lhe faz rir, mas aproveita a oportunidade para me contar uma história sobre os reality’s estilo K. “Eu tenho uma amiga viciada neste estilo de programas, e um dia perguntei: ‘Por que você gosta?’. E me disse: ‘Não sei, talvez pelo fato de que as pessoas tão ricas também não vão bem, briguem e colocam chifres, me faz sentir melhor com minha vida‘”. A Chris a comparação lhe soa triste, mas a entende.

Depois de que a imprensa de fofocas o tirou do closet com fotos de seu casamento, agoraChristian está seguro de que não quer ocultar uma relação, embora quando o mencione unicamente sorrir e bate em meu ombro, “Já sei onde quer chegar, desgraçado!“. “O amor pode chegar de qualquer lado“, me explica, referindo-se a que seu seguinte crush pode ser alguém mais velho, alguém casado, pode ser alguém de outra raça, de outra religião; e essa mesma compreensão lhe levou a escrever a canção “Sacrilegio”, seu single mais recente. O novo som do CD “Esencial“, é diferente do que escutamos antes, mais estudado e mais centrado na identidade que pouco a pouco e através dos anos vem encontrando. “Não sabia exatamente que queria dar as pessoas, o que eles também queriam de mim. Comecei a procurar o diferente que Christian fazia dos demais.” “E o que encontrou?”, perguntei. “Meu tom de voz, encontrei minha cor, minha forma, meu estilo. Me encontrei no palco“.

“Eu gosto do seu primeiro CD como cantor solo”, comentei, notando que ele fala de “Esencial” como o verdadeiro som de Christian Chávez, um que começa, mas não que continua, e tal qual como esperava, respondeu entre risos, “A verdade é que não gostei tanto. Para ser sincera foi um CD muito tropeçado. Foi muito rápido e realmente houve uma preparação. Ainda não havia me encontrado fora do RBD“. Agora até em inglês, português e indonésio canta (literalmente) e com uma preparação musical que inclusive o levou a ter aulas de piano -instrumento que, confessa, ainda não está preparado para tocar ao vivo.

Eu já assim ‘foreveando’, mas de nenhuma forma é Mezcaleria, bem afinado“, me disse sabendo o muito que se apaixona no momento que fala de seu novo trabalho. “Eu acho que estamos num momento em que precisamos voltar às origens“, e essa é precisamente a razão por trás do unplugged que passou a viver um ano e meio de preparação e foi gravado completamente ao vivo (DVD e Álbum). O mesmo trabalho o levou a morar em Los Angeles, completamente longe de seus amigos, o que me faz lhe perguntar. “Não sente falta?”. Christian responde dando um dato wikipediano que no momento não parece ter nenhuma relação, “Sabias que 40% da população de Los Angeles são mexicanos?” — Interrompo, “Sim, mas não SEUS mexicanos.” “Muitos são sim MEUS mexicanos“, responde seguro antes de listar a quantidade de gente que o reconhece nas ruas e lhe lisonjeia com presentes, inclusive já aconteceu dele comer de graça, depois a conta vai para os donos da casa ao perceberam quem é o cliente.

Estou para lhe perguntar se sente nostalgia, se mudaria algo em sua história, se não morre para voltar, mas vejo que é desnecessário. O homem que tenho à minha frente demonstra satisfação, transmite um sentimento de realização e tranquilidade que só o passar pelos buracos e calçadas irregulares pode dar a pessoa que um dia desperta e percebe, “Sim, esta é minha essência“. Outra letra de “Spring Awakening” me vem à cabeça, Through the darkness comes the laughter. Me despeço e o deixo subir na caminhonete em que sua pai o está esperando.

Créditos: Iván Pasillas @ / Quien.com
Tradução e adaptação: RBDForever.com

Fonte: rbdforever.com